sábado, 9 de outubro de 2010

Marinheiro sem lar

A solidão do Naval é contagiante, tortuosa.
Imagino o ranger das escadas mesmo sem ninguém pisá-las.
Tamandaré me guarda.
Escrevo agora o diário de um marinheiro solitário.
Sem vela, sem rumo, sem nó.
O prédio é centenário e sua arquitetura ao mesmo tempo que me deixa admirada, me assusta.
Falo com as paredes. Falo das paredes.
Elas me contam segredos e eu falo dos meus.
Parece que nelas eu posso confiar, pois as histórias irão morrer com o prédio. Já não estarei aqui.
Sentirei saudades, admito. Mas não mais que de você.
Mas ninguém perguntou de você, nem as paredes.
Elas não tem braços para me enlaçar num abraço, então se fazem gélidas junto a mim.
Sem acalantos, a mesma frieza de sempre como já era de se esperar.
Ela sussurrou em meus ouvidos que você partira e me deixara só, e que nada poderia fazer para mudar tal questão. Tudo tornara-se frio e vazio sem ti.
Será assim agora por diante, mas eu já provei dessas palavras antes...
Não sei como terminar isso, ficará assim. Sem final.
Outros sorrisos tomando o lugar dos meus.
Sem suspiros, sem abraços.
Sem teu cheiro, sem teu jeito.
Analogias que não farei mais. Para conforto de meu músculo cardíaco que acelera este pobre e fúnebre corpo, alma.
Eu não senti prazer.
Eu senti conformidade por lhe amar, mas não desisti no 1° momento como tantas outras companhias o fizeram porque me bastava amor. Me bastava amar.
Seu prazer eu fazia questão de descobrir depois e por partes, porque eu lhe desejava. Desejo.
Atração. Desejo.
Eu buscava lhe devorar aos poucos mas fui devorada por outrem.
As estações não demoram tanto para passar.
São apenas 4 e chove outra vez.
A parede gélida me fez calar e parar de pensar.
Sinto um arrepio e finda-se algo interminável.
Adeus não é o melhor que eu posso lhe dar.

Um comentário:

Obrigada!