domingo, 16 de maio de 2010

Simples tentativa

1
Um estranho lugar, um sonho bom.

Em um instante me vejo num lugar desconhecido, vejo tudo muito rápido, sinto-me aflita. Pessoas, lugares e objetos fazem-se vultos, aperto meus olhos e tudo parece girar.
Conto até três (1...2...3), minha respiração que se encontrava acelerada parece agora falecida. Em minha mente não há mais lembranças e tenho uma estranha sensação de felicidade por me encontrar nesse estado.
Abro meus olhos, o vento toca meu rosto como em um beijo suave e me vejo num campo de girassóis, tenho vontade de voar, mas me faltam asas.
Vejo uma pequena casa azul no meio daquele mar de girassóis, era exatamente como imaginava quando criança. Pensei que não me lembrava mais de nada, mas duas coisas surgiam na minha mente, duas lembranças de quando era criança voltaram ao meu pensamento.
A primeira delas era a casa azul da qual eu mencionei, a segunda era mais intrigante e fantasiosa. Um anjo desconhecido que me visitara nos meus sonhos de menina.
Sinto-me a mesma criança de quando sonhava coisas belas e não sabia o que era tristeza senão por um simples “dodói”, e confesso que esperava ansiosa pela materialização da minha segunda lembrança.
A casa encontrava-se distante e eu corri até ela, girando, saltitando, desfrutando cada centímetro daquele lugar, do meu lugar. Uma curiosa borboleta me acompanhava e dançava junto comigo, apelidei nossa suave coreografia involuntária de “A dança dos Girassóis”.
Recolhi alguns girassóis pelo caminho, pelo que me lembro dos sonhos de menina estava em Toscana e a rústica casa azul no meio do campo de girassóis me pertencia e eu precisava contagiá-la com a vivacidade daquelas flores.
Cheguei a casa, como não me lembrava muito bem bati à porta para saber se aquela casa possuía dono, mas eu tinha razão, era como nos meus sonhos de menina, a casa me pertencia.
- Como eu sei disso?!
Entrei na casa e havia algumas fotografias minhas, tudo era do meu jeito, aquela atmosfera me pertencia. Uma das mais reais provas disso foi a minha pequena girafa sobre a cama, era ela e eu não tinha dúvidas. A marca de chocolate nela era inconfundível; parecia até um coração.
A cada passo que eu dava me sentia cheia daquela atmosfera própria e não tinha como não sorrir.
Meu sonho juvenil parecia ser real, mas só uma coisa me intrigava em toda aquela história, faltava quem eu mais via no sonho. Se isso me intrigava quando menina, agora estava me deixando incontestavelmente aflita. Faltava o anjo, faltava o meu anjo. Onde ele estaria? Seria fantasia demais?
A borboleta que me acompanhava tinha sumido por horas, mas agora estava no peitoril da minha janela como em um passe de mágica, ou melhor, em um “passe de asas”. Eu tinha uma sensação feliz e ao mesmo tempo estranha, ela parecia me observar.
Fui em direção à porta, sentei-me na entrada de minha casa e fiquei a observar tudo. Parecia ser 12:00h, o sol estava sensivelmente agradável e uma brisa corria pelo campo de girassóis, me impregnando com aquele suave aroma. Fiquei ali por horas, simplesmente apreciando cada segundo que se passava. Aquele bucolismo não me incomodava em nada, eu parecia descobrir a paz que eu não possuía.
A cada passo que eu dava aquela misteriosa borboleta aparecia sem nenhum propósito, mas era bom ela estar comigo, parecia querer me fazer companhia e estava conseguindo; mesmo estando em um lugar tão grande e isolado eu não conseguia me sentir sozinha, algo me confortava, mas eu não conseguia saber o que era.
A tarde se passara e eu adormeci na varanda, já era noite e a tal borboleta sumira. O clima já não era tão agradável assim, mas até aquele friozinho me fazia bem. Corri para dentro de casa, recolhi algumas cobertas e refestelei-me na varanda novamente, agora o que me intrigava não era o campo florido, mas sim as estrelas e a enorme lua cheia que estava no céu.

3 comentários:

  1. "Se isso me intrigava quando menina, agora me deixava incontestavelmente aflita. Faltava meu anjo. Onde ele estaria? Seria fantasia demais?"

    O que há pra se dizer? Nada, você já transformou esse conto em todo o elogio que ele poderia receber, menos que ele seria uma blasfemia. Eu realmente gosto das coisas que você escreve Anne, não sei explicar. Continua?

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  2. Simplesmente inacreditável...
    Sem palavras para expressar! Como sempre me contagiando com suas palavras incríveis.
    Tô esperando a continuação!
    XoxO'

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  3. "Não é que o mundo seja só ruim e triste. É que as pequenas notícias não saem nos grandes jornais. Quando uma pena flutua no ar por oito segundos, ou a menina abraça o seu melhor amigo, nenhum jornalista escreve a respeito. Só os poetas o fazem."


    E nesse seu texto eu encontrei tudo, e um pouco mais. Lindo. Você escreve com sua alma e isso a espelha. Girassóis. Borboletas. Estrelas. (...)

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Obrigada!