segunda-feira, 31 de maio de 2010

nada

Caminhava enquanto anoitecia, não eram nem 7 horas mas tudo estava muito escuro.
Estava escuro e eu gostava de ver minha sombra. Talvez eu só esteja vendo-a como em dias claros, mas
ela parecia mais apresentável.
Estava frio lá fora e meus passos eram agéis e desengonçados.
Sentia o vento frio arfar junto com a minha respiração e entorpecer meus pulmões.
O vento gélido beijava meus cabelos.
Minhas mãos estavam seguras no bolso do casaco.
Eu tinha rumo certo, mas queria não tê-lo.
Minha consciência manifestou-se e se pôs a falar.
Sabia que dali a 5 minutos ganharia companhia e minha conversa particular seria interrompida,
mas não me fazia diferença naquele instante. Eu ainda estava sozinha comigo.
Não que a companhia fosse desagradável, mas eu preferia surtar junto a meus pensamentos.
Nós de pensamentos me consumiam, mas não consegui chegar a lugar algum.
A companhia chegou e estava calada, eu ficava feliz pelo silêncio.
Depois, me envolveu num laço de abraço e se pôs a falar como era previsto, mas não fazia muita diferença,
eu não queria ouvir palavras vazias e minha cabeça entrava em conflito com minhas ideias num só giro.
Voltara aos meus pensamentos.
Era involuntário.
Era preciso.
Agora a minha cabeça dói.
Somente dói.
Minhas palavras cheias agora se tornaram versos vazios e frios.
Impensados e designados ao lugar nenhum.
Explorados pelo nada.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

respire e arrependa-se, pense e conforme-se

Arrependimento.
Todas essas letras doem.
A palavra me entorpece.
Me afogo em pensamento do que poderia ser.
Me vejo num presente que não é.
Você vem me falar de amor,
mas só agora eu descobri que te amava.
Você me castiga com a dor,
mas eu não sangro,
eu não sinto.
Apenas imagino como deveria ser, e isso eu te garanto que é bem pior.
E você me pergunta o que é pior.
Lhe interrogo.
- O que é pior?!
Eu respondo.
Sonhar com um presente que poderia existir e planejar o futuro do passado.
Sentes pena de mim agora, eu sei.
No fundo sei que também pensa como seria se fosse eu, mas já não lhe cabe responder.
Tens outrem.
Agora eu sei no que errei e temo não poder fazer nada, ou melhor,
eu não posso fazer nada e o que mais me choca é que cometo sempre o mesmo
erro sem perceber.
Foi sempre mais um sonho.
Foi sempre mais um pesadelo.
Foi sempre algo que se lembra e se esquece.
Só mais um arrependimento.

sábado, 22 de maio de 2010

Simples tentativa, II

2
Uma estrela não tão pequena assim.
(Continuação)

- Não tenhas medo, eu sou quem você mais desejou.
E eu indaguei: - Meu anjo?!
-Sim, eu sou seu anjo.
Ouvindo isso voltei correndo para o lugar em que me encontrara antes, pensei que fosse onde ele estava, corri em volta daquele lugar e não o via.
- Meu anjo, onde tu estás?
- Estou ao seu lado meu amor. Eu posso lhe tocar, mas nesse momento ainda não podes me ver.
- Por que isso? Retruquei inconformada.
- Se confias em mim, acredite; ainda não é a hora.
- Eu acredito em você, mesmo pensando que és fruto da minha imaginação, mas toque-me, eu esperava ansiosamente por você desde que eu era menina.
Ele me tocou, senti seus leves lábios em minha nuca, uma onda de sensações se espalhou por todo meu corpo e pelo meu inconsciente, eu nunca tive uma sensação tão forte como esta, agora não pensava que o meu anjo fosse fruto da minha imaginação, parecia realmente existir.
- Diga amor, tens uma pergunta para me fazer, não tens? Disse-me o anjo.
- Na verdade tenho sim, mas como sabes?
- Isto não importa, faça-a logo, já não tenho muito tempo com você, terás de ser breve, tenho que partir.
- Não podes partir agora. Nas fotos, é você que estás comigo?
- Sim, sou eu.
- Por que não mostra seu rosto?
Nem nas fotos eu posso te ver, não lembro da tua imagem imponente nem em meus sonhos passados, seu rosto nunca aparecia, era tomado por uma neblina constante que sempre me afligia.
- Agora não precisas me ver, apenas eu necessito te ver, por isso estou aqui, lembre-se disso.
- E se você me esquecer, se não precisar mais me ver?
- Eu não vou lhe esquecer, penso em ti todos os dias e lhe observo quando pensas que não estou lá. Agora tenho que ir.
- Não se vá, fique mais um pouco, preciso de você.
- Agora não dá mais, lembras do pedido que fez a uma estrela?
- Como poderia esquecer?!
- Então... Sempre que quiseres me ver, fixe seu coração neste cordão que ela lhe deu e eu aparecerei pra você, mas use-o com prudência, só quando mais necessitares.
- Mas...
Fui cortada pelo silêncio, já não sentia mais sua presença ali, fui tentada a tocar no colar que ganhara da estrela novamente, mas ele foi bem ríspido ao dizer pra eu usá-lo somente quando mais necessitasse. Eu sentia falta da presença dele ali, mas não poderia arriscar, não queria perdê-lo.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Simples tentativa, II

2
Uma estrela não tão pequena assim.

Uma estrela me chamava a atenção em especial naquele vasto céu. Ela não era a maior, mas a que mais se destacava entre todas as maiores, mesmo sendo pequenina ela era a que mais reluzia. Seu brilho era intenso e cativava os meus olhos a cada vez que o via, ela parecia me seduzir, me entorpecer.
Senti que aquela estrela não era comum, ela me energizava, mesmo não acreditando em misticismo. Ela me intrigava não sei por que, e com isso lhe fiz um pedido:
- Por favor, estrela, traga-me o anjo que sonhei quando menina.
Algo me dizia que meu pedido seria realizado, ela pareceu sorrir quando fiz o meu pedido e não sei como isso se deu, talvez possa ter batido a cabeça na parede. Como pensar algo assim, como uma estrela poderia sorrir e realizar desejos?! Estava muito fantasiosa, mas confiante, e isso me deixava com medo de mergulhar nas fantasias loucas do meu inconsciente. Permaneci imóvel por alguns instantes e depois de tanto admirar o nada sob a luz daquela estrela e de uma imensa lua, decidi entrar e dormir.
Acordei ao amanhecer, me sentia revigorada, esse lugar possui algo incomum, é algo inexplicável, é como se eu estivesse no céu, no meu mundo imaginário. Fui preparar meu café da manhã, era estranho, eu não me recordava muito daquele lugar, mas sabia exatamente aonde se encontrava cada objeto, talvez porque fosse a minha casa; afirmando isso eu ria sozinha. O arranjo de girassol deixava minha mesa de café da manhã mais brilhante, as cores das frutas eram agora reluzidas pelo sol que acabara de nascer e invadia minhas janelas. Logo depois de tomar café da manhã fui tomar banho e fiquei por horas dentro da banheira que preparei, depois me vesti e fui investigar a casa que mesmo tão familiar me parecia ainda misteriosa.
Cada canto era meu, eu não tive dúvidas. Olhando os porta retratos me surpreendi, não havia fotos em família, apenas com amigos dos quais não me recordo muito, exceto um com cabelos loiros, olhos azuis e ar angelical, o qual me recordei rapidamente e o intitulei de meu melhor amigo. Rapidamente recordei seu nome. Chama-se Arthur, mas agora não sei seu paradeiro.
Surpreendo-me com o que vejo, em uma das muitas fotos contidas em um álbum que peguei, vejo que estou acompanhada, mas não vejo o rosto do meu acompanhante; além de estar no álbum de fotografias acima da lareira, há um outro porta retratos em destaque e me encontro acompanhada da mesma pessoa, mas novamente não possuía uma face visível.
Em um surto repentino me pego gritando: - É o meu anjo, é o meu anjo!
O que aconteceu comigo?! Seria esse meu anjo perdido?!
Eu não parecia ter ocupação, vivia distante de tudo. Com isso resolvi explorar mais o campo de girassóis. Saí descalça de casa a fim de pisar na terra, assim que abri a porta meu sorriso foi automático, mas ele já não era tão sincero como da última vez. Meu olhar assim como meu sorriso parecia confuso, correr sem ter direção foi a maneira que escolhi para tentar não pensar no que me atormentava. Eu fechei os olhos e simplesmente corri, corri, corri. Cheguei a um ponto que não via mais minha casa, foi quando abri meus olhos.
Assim que abri meus olhos vi algo se movimentando em minha direção, eu não sabia do que se tratava, mas essa “coisa” apareceu assim que eu parei de correr e segurei no meu cordão de estrela, ele formava um pentagrama.
- Mas que cordão de estrela?! Até ontem eu não tinha cordão de estrela nenhum. – Pensei alto.
A “coisa” continuava se aproximando e eu não sabia o que fazer, mas por algum motivo eu não parava de pensar no meu pedido à estrela ontem...
Meu medo do desconhecido era maior, então corri de medo. Nisso que corri, escutei uma voz.

domingo, 16 de maio de 2010

Simples tentativa

1
Um estranho lugar, um sonho bom.

Em um instante me vejo num lugar desconhecido, vejo tudo muito rápido, sinto-me aflita. Pessoas, lugares e objetos fazem-se vultos, aperto meus olhos e tudo parece girar.
Conto até três (1...2...3), minha respiração que se encontrava acelerada parece agora falecida. Em minha mente não há mais lembranças e tenho uma estranha sensação de felicidade por me encontrar nesse estado.
Abro meus olhos, o vento toca meu rosto como em um beijo suave e me vejo num campo de girassóis, tenho vontade de voar, mas me faltam asas.
Vejo uma pequena casa azul no meio daquele mar de girassóis, era exatamente como imaginava quando criança. Pensei que não me lembrava mais de nada, mas duas coisas surgiam na minha mente, duas lembranças de quando era criança voltaram ao meu pensamento.
A primeira delas era a casa azul da qual eu mencionei, a segunda era mais intrigante e fantasiosa. Um anjo desconhecido que me visitara nos meus sonhos de menina.
Sinto-me a mesma criança de quando sonhava coisas belas e não sabia o que era tristeza senão por um simples “dodói”, e confesso que esperava ansiosa pela materialização da minha segunda lembrança.
A casa encontrava-se distante e eu corri até ela, girando, saltitando, desfrutando cada centímetro daquele lugar, do meu lugar. Uma curiosa borboleta me acompanhava e dançava junto comigo, apelidei nossa suave coreografia involuntária de “A dança dos Girassóis”.
Recolhi alguns girassóis pelo caminho, pelo que me lembro dos sonhos de menina estava em Toscana e a rústica casa azul no meio do campo de girassóis me pertencia e eu precisava contagiá-la com a vivacidade daquelas flores.
Cheguei a casa, como não me lembrava muito bem bati à porta para saber se aquela casa possuía dono, mas eu tinha razão, era como nos meus sonhos de menina, a casa me pertencia.
- Como eu sei disso?!
Entrei na casa e havia algumas fotografias minhas, tudo era do meu jeito, aquela atmosfera me pertencia. Uma das mais reais provas disso foi a minha pequena girafa sobre a cama, era ela e eu não tinha dúvidas. A marca de chocolate nela era inconfundível; parecia até um coração.
A cada passo que eu dava me sentia cheia daquela atmosfera própria e não tinha como não sorrir.
Meu sonho juvenil parecia ser real, mas só uma coisa me intrigava em toda aquela história, faltava quem eu mais via no sonho. Se isso me intrigava quando menina, agora estava me deixando incontestavelmente aflita. Faltava o anjo, faltava o meu anjo. Onde ele estaria? Seria fantasia demais?
A borboleta que me acompanhava tinha sumido por horas, mas agora estava no peitoril da minha janela como em um passe de mágica, ou melhor, em um “passe de asas”. Eu tinha uma sensação feliz e ao mesmo tempo estranha, ela parecia me observar.
Fui em direção à porta, sentei-me na entrada de minha casa e fiquei a observar tudo. Parecia ser 12:00h, o sol estava sensivelmente agradável e uma brisa corria pelo campo de girassóis, me impregnando com aquele suave aroma. Fiquei ali por horas, simplesmente apreciando cada segundo que se passava. Aquele bucolismo não me incomodava em nada, eu parecia descobrir a paz que eu não possuía.
A cada passo que eu dava aquela misteriosa borboleta aparecia sem nenhum propósito, mas era bom ela estar comigo, parecia querer me fazer companhia e estava conseguindo; mesmo estando em um lugar tão grande e isolado eu não conseguia me sentir sozinha, algo me confortava, mas eu não conseguia saber o que era.
A tarde se passara e eu adormeci na varanda, já era noite e a tal borboleta sumira. O clima já não era tão agradável assim, mas até aquele friozinho me fazia bem. Corri para dentro de casa, recolhi algumas cobertas e refestelei-me na varanda novamente, agora o que me intrigava não era o campo florido, mas sim as estrelas e a enorme lua cheia que estava no céu.