sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A última filha do vento

A última folha que cai daquela árvore está finalmente seca. E tudo o que eu posso ouvir é o vento lá fora, assim como você disse que ele viria.
Ríspido. Ele chegou e está aqui, e parece me acompanhar a todo o tempo, não tem sido fácil.
Todos dizem que ele tem duas filhas e que veio buscar a última delas. O vento carrega consigo doze aspectos que o incomodam e banha a cada um de nós com ele. fez questão de atribuir dois males e duas qualidades a suas filhas, sendo um deles a solidão. Ele rastreia os males, envolve-os com sua brisa e com isso chegou até a última de suas filhas. Ela é só. Ela é só um pouco de mim, de você.
Havia um bilhete na porta de minha casa, e o mesmo dizia:  
The shorter story.
No love, no glory.
No hero in her sky.
coloquei-me a pensar sobre quem fora o escritor que tivera a ousadia de descrever a minha vida em apenas três frases. As três frases faziam completamente sentido, foi quando eu vi no canto e rabiscado no verso do bilhete, a palavra daughter. Palavra essa com uma escrita sutil, mas mal desenhada.
Urgentemente arrepiei-me. Aquele vento frio que antes era envolvente, que dançava compassadamente com meus pés, braços e quadris já não era o mesmo. A água estava fria e eu não conseguia parar de olhar para as três frases que diziam-me tanto e ao mesmo tempo pareciam mentir tanto sobre mim.Talvez eu me enganasse para sentir-me bem, ou deixar os outros bem com um sorriso meu. Eu estava pensando tão rápido que mal tinha tempo de organizar tudo em minha mente, afinal, ela já estava desorganizada a tempos...
Rindo de mim. Era assim que ele devia estar, era assim que ele estava. Um vento impetuoso que rastreou-me através da solidão. Antes afável, agora mais vazio e confuso. Mas apesar de tudo, eu não consigo deixar de gostar daquela brisa curta e gélida, por vezes calada e que consegue me levar sempre que vem. Sempre no inesperado ele vem e se faz vento. E eu? sou só a sua segunda filha.
And so it's...




quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A filha do vento

Um texto baseado em fatos reais e inspirado na música "The Blower's Daughter", Damien Rice. Uma música para duas pessoas, um texto para muito mais do que isso. Você pensou no texto tendo-me como inspiração, mas acabou que o texto refletiu parte de você também.

Não sei porque ainda estou me sentindo assim. Você disse que seria exatamente assim. Sim, eu estou te superando e, sim, isso é incrivelmente bom. Nossa história tinha que ser desse jeito; sem um início, mas com um fim. Um fim que me levou qualquer esperança do amor, que retirou todo o brilho da glória e que fez desaparecer do meu céu, meu heroi.
Mas sabe um problema que me invade e consome a cada segundo? Eu não consigo tirar meus olhos de você. Eu só... não consigo tirar minha atenção de você quando você passa. Quando me abre aquele imenso sorriso que eu adoro. Ou quando olha nos fundo dos meus olhos com seus olhos profundos, onde eu sempre quis me perder. Quando você bagunça o cabelo, nervoso. Ou quando abaixa o olhar envergonhado. Eu não consigo tirar meus olhos de você. Nem por um instante.
Mas, é assim que tem que estar. É assim que, como você disse, deve ser. Nós dois esquecemos como é ter um amor de verdade. Aquele amor que é como uma brisa leve acariciando o rosto e bagunçando o cabelo. Aquele que é extremamente agradável, sabe? Nós nos tornamos uma noite bastante chuvosa. Chuva fria. E eu, antes filha do vento, sou filha de trovões e raios agora. Ninguém me entende mais. Acho que ninguém mais consegue. Acho que nem eu mesma. Meus amigos estão ocupados, minhas notas caíram, eu me perco em meio a pensamentos no meio do dia... Virei uma aluna rejeitada. Rejeitada pelos professores, pelos amigos, por mim mesma.
E o que mais me atormenta é não conseguir tirar meus olhos de você. Não consigo simplesmente parar de olhar você tocando seu violão distraído. Não consigo tirar meus olhos de você quando sei que tem algo de errado e ninguém consegue perceber, a não ser eu. Eu não... Não consigo tirar meus olhos dos seus olhos preocupados comigo, porque, pode parecer idiotice, mas não conheço alguém que saiba me decifrar tão bem quanto você. Não consigo tirar meus olhos...
Meu Deus! Por que raios eu não consigo me libertar de uma vez por todas de você? Eu já disse que eu te detesto? Não? Eu te detesto! Já te disse que eu quero deixar tudo isso para trás, de uma vez por todas? Não? EU QUERO! Eu quero muito ter você longe, te esquecer de uma vez por todas e seguir a minha vida. Você poderia me ajudar com isso?
Eu não consigo parar de pensar em você! E você, me dizendo coisas bonitinhas e dizendo que me ama, não ajuda em nada. Eu não consigo parar de pensar em você e isso já se tornou involuntário. Eu não consigo parar de pensar em você quando eu ouço uma música que tem a ver com a gente. Eu não consigo parar de pensar em você quando eu passo por algum lugar por onde passamos juntos. Eu não consigo parar de pensar em você quando eu rio de algo que já rimos juntos um dia... Meus pensamentos... Meus pensamentos... Eles até parecem ser dominados por você. Eu não consigo parar de pensar em você, mas isso vai acabar. Eu não consigo parar de pensar em você... Até eu conhecer uma nova pessoa.

Por: Thy Santana

terça-feira, 30 de novembro de 2010

entre uma tragada e outra

Bem, eu sentei sozinha em frente a calçada do colégio enquanto todos me procuravam e tirei um cigarro da mochila.
Não tenho esse mau hábito, mas aquela situação estava me consumindo. Tragadas me aliviavam quanto a isso.
Era o segundo deles, ninguém sabia.
Eu não gostava daquela fumaça, nem daquele cheiro incômodo.
Antes eu era somente mais uma fumante passiva no meio de todos, agora eu assumia a postura do primeiro. Aquele que provoca o mal.
A fumaça subia, a lágrima caia, meu sofrimento redimia.
Eles realmente estavam preocupados comigo, mas estavam ainda mais com um romance falho que havia no grupo. Minha linguagem é suja enquanto a isso, mas prefiro não comentar.
- Faz mal à saúde e blá, blá, blá.
Cansei deles, cansei mais ainda de mim.
Eles me sugam.
Eu também.
Misturei-me àquele ar, virei fumaça.
Sou fumaça tragada, sou eu quem trago a fumaça.
Já que entre uma tragada e outra, eu trago a lembrança.

O tempo

Por muitas vezes admiraram a minha coragem por conseguir expor o que eu realmente sentia, mesmo que eu soubesse que havia grande chance d'eu receber um não como resposta para tal tentativa. E por vezes foi assim, eu confiava e mim e falava.
Não sentia vergonha de amar outro alguém, eu apenas amava e não era tão doloroso receber um não. Afinal, eu tinha tentado.
Eu tentei amar, mas sempre amei as pessoas erradas.
Não via quem realmente merecia algo de mim, eu era pó.
Eu era pólem, nó.
Depois desses erros sem acertos, dessas tentativas descabidas, eu virei o que sou hoje, ou não.
Introspecção.
Desaceleração.
Medo.
Sofrer.
Desamor.
Eu virei alguém que ama calado, que não vê o que está errado e ainda sim clama por amor.
Eu pus em versos seu nome em melodia, que cantava em sinfonia com o meu novo estilo de amor.
Eu amei ao vento, ao tempo e àquele senhor.
Perdi pra senhora num jogo de bola, o meu coração.
Ele não bate e nem perguntem-me se ele está bem. Ele está brigado comigo.
Fico sentada num pedaço de rua e perco o meu olhar. Não há foco.
Sou desfocada e sufocada, desfocante e sufocante. Neologismo puro.
Passeio entre casais risonhos e vejo a felicidade dos mesmos, fico feliz por eles.
Não é inveja ou coisa assim, apenas há emoção numa troca de olhar.
Me valho da felicidade alheia.
Eu não tinha medo de amar.
Eu passei a tê-lo, já que o amor brigou comigo.
Ele resolveu pregar-me uma peça, já que não tinha mais tarefas e me pôs a chorar.
Fingiu amizade, colocou-me um sorriso no rosto que eu não sabia mais como tirar.
Deixou-me assim por menos de um mês, deu-me uma felicidade de burguês e se pôs a correr.
Eu tinha começado a acreditar naquilo tudo, mas sonhos são irreais.
Foi um déjà vu  momentâneo, apenas isto, sem mais.
E o que o tempo tem haver com isso? Nem eu sei do que falei.
Eu disse haver com isso. E o certo é a ver com isso, ou haver com isso?
Que me importa.
Desculpe-me leitor se perdeste seu tempo, mas ainda é tempo de recomeçar.
Feche esta a janela e invada sua alma, se perca na calma do teu amanhecer.
Se faça manhã e noite, deixe chover.
O tempo mudou, eu também.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Onco Pediatria

Estava num plantão, mais um deles. Já se tornara habitual, o hospital tornou-se meu lar. Mais uma noite com as crianças, mesmo com todo esse cansaço elas me fazem muito bem.
Cuidar. Meu verbo favorito. Protegê-las, minha melhor ação.
Todas elas já estavam dormindo, o tratamento não é fácil mesmo que a maioria delas tenha vitalidade e vontade de seguir. É cansativo, morre uma parte delas e a esperança se desgasta mas elas possuem estrelinhas, muitas até.
Todas dormiam, menos a novata que me cativou. Ela se chamava Emily, tinha a pele alva, era loira e tinha belos olhos azuis e então fui ao encontro dela. Preocupava-se muito com minhas crianças, talvez ela tivesse dor. Ao ir de encontro a ela, a mesma fingiu dormir e eu a indaguei. Está tudo bem? Ela balançou a cabeça fazendo que não e abraçou-me fortemente. Estava com saudades de casa.
O câncer de Emily estava em estágio avançado, mas eu a admirava por seguir o tratamento e sempre animar as outras crianças. Seu sorriso era cativante e fazia com que todos se animassem para a 'quimio', que era o pesadelo de muitas delas. Eu queria ajudar aquela menina, eu precisava salvá-la e de certo que daria a minha vida por um de meus pacientes. Abracei-a até que a mesma dormisse, mas antes disso minha voz rogou algumas cantigas de ninar.
Eu aprendia cada vez mais com as crianças, elas sorriam enquanto eu tinha vontade de chorar por vezes. Elas tinham uma força descomunal.
Para minha surpresa a doença de 'Mily', como as crianças a chamavam, tinha estacionado e ela parecia muito melhor. A menina e seu ursinho, inseparáveis. Ele tinha sempre uma tira de curativo, assim como ela. Quando ela tinha que fazer a extração de líquido da medula, eu encaminhava o ursinho a maca ao lado da dela. Ela não poderia se mexer, e ficava paradinha como ele.
Seus olhos azuis me encantavam, tinham algum mistério. Eles sorriam pra mim. Ela tinha uma luz, e então eu passei a acreditar que existiam anjos e ela era um dos espíritos de luz daquele lugar. Era forte, negava a dor e eu era mais dependente do abraço dela a cada dia. Acho que eu aprendia muito com ela, acho que aprendi muito com ela.
Todos os dias quando já estava pra ir embora do hospital, eu ia ao quarto das crianças contar histórias e dar um beijo de boa noite em cada uma delas. A maioria já não tinha mais cabelo, mas gostavam de um cafuné. Eu não tinha filhos, mas considerava-os como meus filhos. Eu ia pra casa exausta, tomava um banho, geralmente não conseguia dormir porque queria estudar o caso de cada criança. Uma generosa caneca de café era minha companhia por horas, eu não tinha ninguém. Eu queria a cura de cada um dos pimpolhos, queria que eles sofressem menos e esquecia que me faltava algo, ou alguém. Acompanhava cada caso de perto. Lembrei deles. Lembrei dos beijos e carinhos que ganhava e das graças das mães agradecendo por cada ato que eu fazia para e pelas crianças. Eles confiavam em mim, eu não podia os decepcionar. Jurei isso.
Emily mais cedo me perguntara se eu não tinha alguém pra amar, eu disse que tinha. Tinha a todas as crianças que eu cuidava. Ela riu da minha afirmação e colocou seu ursinho na frente de seu rosto risonho que seus cabelos já não podiam cobrir. Você não tem alguém que te ame, que cuide de você assim como você cuida de nós? ...eu não tive palavras, disse que não. Realmente, eu não tinha alguém que cuidasse de mim e não me importava com minha aparência desbotada, afinal eu ganhava o título de Drª da Alegria e um nariz de palhaço quando entrava no hospital. Eu nunca parei para pensar em mim, eu sempre queria o bem de outrem e aos poucos me esquecia. Abaixei a cabeça e uma lágrima insistiu em pular de um dos cantos de meus olhos, ela me abraçou e fez questão de lamber a lágrima. Então eu ri, aquele gesto fez eu ver que alguém se importava comigo e dali todas as crianças vieram pra cima de mim, me abraçaram e imploraram por cantigas e histórias antes dos exames rotineiros. Me compram facilmente com amor.
Mais uma noite, mais um plantão. A diferença é que esse não foi tão tranquilo como o último.
Estava em minha sala e senti como se algo ruim fosse acontecer, saí desembestada pelos corredores sem saber pra onde ir. Algo me chamava em alguma sala, no corredor vi o ursinho jogado e ao entrar Emily estava expelindo sangue enquanto os outros dormiam. Ela tinha piorado e da última vez que analisei o caso ela só tinha tendência a piorar. Ela piorou. Corri com a menina nos braços, ela estava desacordada no quarto de repouso. Sala de exames. Transfusão sanguínea. Quarto de repouso. Seus pais estavam desesperados, ela era tudo para eles. Eu não podia perdê-la, tinha que fazer jus ao meu diploma e até o fim iria lutar por ela, assim como faria pelos outros. Ela estava em observação, ainda não se sabia de onde havia surgido a hemorragia e eu temia por alguma função vital dela. Eu a amava, era algo incomum. Por mais que eu soubesse que não deveria me apegar demais aos meus pacientes, era impossível eu vivia a dor de cada um.
Voltei ao meu consultório para dar alta a alguns dos meus pacientes, eles estavam estabilizados e eu ficava feliz por saber que eles estavam bem, e triste por ter que deixá-los. Eles prometeram voltar e me visitar.
Um chamado de urgência no quarto 318, era Emily. Tentaram de tudo antes que eu chegasse, eu tentei bem mais. Tentei reanimá-la de todos os jeitos, mas ela não tinha pulso e aos poucos eu perdia os meus. Ela dormia como um anjo, tinha uma aura tranquila e um semblante feliz. Ao lado de seu travesseiro estava seu urso com um curativo no coração e tinha meu nome escrito. ANNE. Acho que sei o que ela quis dizer com isso. Junto dele uma fita que ela usava nos cabelos de raio de sol e nela estava escrito: Obrigada por tudo e procure quem te cuide, com amor Emily. Ela parecia saber que ia, mas não me avisara. Ela sabia do que eu precisava e eu não consegui curá-la. Meus olhos se encheram de lágrimas, mesmo que médicos não devam chorar. Abracei seu corpúsculo lembrando de tudo o que aquela menina tão pequena fez por muitos naquele lugar. Com 7 anos ela sabia mais coisa do que eu. Eu só soube dizer adeus meu pequeno raio de sol e sair pelas portas correndo, assim como uma daquelas crianças. E nunca mais larguei aquela fita, sempre a tinha comigo nos momentos mais importantes e até hoje procuro o que ela me deixou escrito por lá.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

eat, pray, love

Ultimamente tenho praticado bastante a parte "eat" de "eat, pray, love", um drama inicialmente de um livro que gerou um longa metragem.
Não gosto, nem me valho muito de comparações mas tenho de admitir que me encaixei com muitas situações desse filme. Odeio livros de auto-ajuda e esse me parecia ser mais um. Talvez eu precise de um.
Fui ao cinema sozinha nesse dia.
Chorei sozinha também.
Não havia como negar aquela cenas. Era eu ou apenas o pouco frustrado de mim.
Comer.
E esse tem sido meu prazer ultimamente.
E por mera semelhança a Itália será meu destino. Palco de uma comilança incessável.
Mais tardar ano que vem.
Aprenderei a arte de comer?
Mas antes disso traga meu sorriso de volta, deixei-o com você e esqueci de pegá-lo.
A arte da felicidade está implícita a tudo, até na saturação.
Faz da fotografia preto e branco que não temos colorida. Mas use somente da tua aquarela e deixe tua marca nela. Resolvi levar de lembrança.
Eu nunca fiquei tão feliz quando lhe tive por perto, sei que não foi nada mas eu estava... feliz.
Clichê, eu sei. Mas descobri um pouco de fato o que era essa tal felicidade que tantos outros proclamam.
Nunca tive um sorriso a postos antes. Era singelo e natural.
Não precisava de motivos para sorrir. Você ainda estava ali.
Eu fui feliz e eu sabia.
Dê-me meu sorriso e então comerei...
Posso continuar a comer ou iniciar outro passo?

sábado, 9 de outubro de 2010

Marinheiro sem lar

A solidão do Naval é contagiante, tortuosa.
Imagino o ranger das escadas mesmo sem ninguém pisá-las.
Tamandaré me guarda.
Escrevo agora o diário de um marinheiro solitário.
Sem vela, sem rumo, sem nó.
O prédio é centenário e sua arquitetura ao mesmo tempo que me deixa admirada, me assusta.
Falo com as paredes. Falo das paredes.
Elas me contam segredos e eu falo dos meus.
Parece que nelas eu posso confiar, pois as histórias irão morrer com o prédio. Já não estarei aqui.
Sentirei saudades, admito. Mas não mais que de você.
Mas ninguém perguntou de você, nem as paredes.
Elas não tem braços para me enlaçar num abraço, então se fazem gélidas junto a mim.
Sem acalantos, a mesma frieza de sempre como já era de se esperar.
Ela sussurrou em meus ouvidos que você partira e me deixara só, e que nada poderia fazer para mudar tal questão. Tudo tornara-se frio e vazio sem ti.
Será assim agora por diante, mas eu já provei dessas palavras antes...
Não sei como terminar isso, ficará assim. Sem final.
Outros sorrisos tomando o lugar dos meus.
Sem suspiros, sem abraços.
Sem teu cheiro, sem teu jeito.
Analogias que não farei mais. Para conforto de meu músculo cardíaco que acelera este pobre e fúnebre corpo, alma.
Eu não senti prazer.
Eu senti conformidade por lhe amar, mas não desisti no 1° momento como tantas outras companhias o fizeram porque me bastava amor. Me bastava amar.
Seu prazer eu fazia questão de descobrir depois e por partes, porque eu lhe desejava. Desejo.
Atração. Desejo.
Eu buscava lhe devorar aos poucos mas fui devorada por outrem.
As estações não demoram tanto para passar.
São apenas 4 e chove outra vez.
A parede gélida me fez calar e parar de pensar.
Sinto um arrepio e finda-se algo interminável.
Adeus não é o melhor que eu posso lhe dar.

túnel

Meu sistema imunológico está baixo.
Baixo pela tristeza, coisa psicológica (repetição por fraquejo emocional).
Estou doente outra vez e mais uma vez verei o hospital.
Ele está cheio de mim, cheio de caras pálidas como a minha.
Pessoas sucumbidas passeiam pelo corredor.
Aquelas olheiras, a dor, esses sintomas contagiam.
Contaminam rápido.
Além de tudo, "stress".
Com 17 eu sofro disso e mais um pouco.
Posso ter um infarto e antes dos 42 é clinicamente provado que ele se dá de forma fulminante.
Eu sempre soube que morreria cedo e nesse caso, seja uma metáfora se você quiser,
"morri do coração".
Mesmo que o adeus seja indigno de você.
Indigno de mim.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pé de vento

Eu desenhei teu rosto num papel,
fiz careta pra Maquiavel.
Andei na rua sem sapato,
somente para sentir o asfalto.
Tropecei em muitas ruas e
pensei em silhuetas nuas.

Então...
Corri para o meu além,
afim de encontrar meu bem.
Chegando lá nada encontrei.
Somente vi um Rei.
Cumprimentou-me e nada falei,
porque para mim não existe rei.

O mesmo disse que leu meu pensamento.
Ri e dancei com o tocar do vento.
Perguntou-me agora se eu estava biruta.
Como pode alguém me achar maluca?

Disse então que eu não acreditava nem
em reis, nem heróis.
O mesmo então, calou a voz.

"Meus heróis morreram de overdose." (Cazuza)
Você no mínimo morrerá de verminose.

Pergunto agora cadê meu bem e o
mesmo diz que o fez refém.
Refém de minh'alma e do meu egoísmo.
Jogaste o mesmo no Meu habismo.

E agora que não tem volta?
Mas quem disse que não tem?
Bata a tua porta e apresente-se outra vez.

Hoje eu vou

Ficar feliz.
Pintar o nariz.
Beijar um palhaço e dar um abraço.
Esquentar meu nariz, fazer-me de atriz.
Dançar com um drogado e fumar um cigarro molhado.
Ajudar um mendigo d'alma e vagar sem minh'alma.
Dar uma flor.
Recebê-la. Fazer amor.
Ter um filho em pensamento e até pensar em casamento.
Invadir uma casa e fazê-la minha. Cantar de medo à noite, sozinha.
Eu vou,
jogar na loteria pra ganhar um amor, enquanto o mesmo me trará a mais bela flor
e somente por isso enterrarei toda essa tristeza no fosso dum elevador.
E direi para mais um dia: "Próximo andar por favor!"

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

É psicológico

Doenças são uma enfermidade natural para as pessoas, podem ser causadas basicamente por um vírus, uma bactéria, uma ameba, um príon e se eu for falar todos esses agentes causadores irei ficar intrigavelmente chata com a minha paixão por biologia e afins.
Parece o rascunho de um artigo científico muito mal elaborado, não?! Pois bem... Não conheço muito bem meu falho organismo, mas o ser humano como todo é uma máquina muito interessante. Como algo parecido com uma fita pode ter um valor tão... Não estimado?
Mas eu volto a falar de mim e de toda essa doença.
Quando eu era pequena e tive que mudar de casa, me separei de uma vizinha que era como uma segunda mãe para mim. Eu a amava tanto. Vânia era o nome dela.
Na semana seguinte a mudança eu adoeci, mas a minha doença não tinha nenhum fundamento nos agentes que citei acima, ela era psicológica.
A saudade estava me matando, e apesar das palavras que ela viria me visitar e que eu poderia fazer o mesmo, eu ainda sim continuava doente.

Enfraqueci.

Chorei.

Como eu queria ver a Vânia, ou melhor, como eu queria ver a tia Vânia. (Era assim que eu a chamava).
Ela não vinha, eu não ia.
Minha mãe disse que isto era psicológico, e os médicos confirmaram o diagnóstico.

- Sim Srª Ana, o que a sua filha tens é algo psicológico, ela desenvolveu esses sintomas a partir de um abalo emocional. (Disse o doutor) Minha mãe acordou.

Ela tinha muitos compromissos e uma doença muito grave, eu teria que entender, mas assim que ela soube que eu estava doente por sentir saudade veio rapidamente ao meu encontro. Aquele foi um dos melhores abraços que eu recebi na vida e vou guardá-lo para sempre.
É difícil tocar nesse assunto, admito, e toda essa saudade eu vou ter que guardar para sempre. Pergunto-me o porquê dela ter partido, mas sou egoísta quando pronuncio essa questão. Ela teve de ir e eu tive que compreender. Ela partiu e junto com ela se foi um dos meus piores momentos de choro e veio um dos mais sinceros sorrisos pelas lembranças. (24/08/2010)

Hoje tenho febre, dor no corpo, calafrios e acho que não preciso do diagnóstico de ninguém, a doença psicológica retornou. Sinto-a tomando grande parte de mim e todos esses sintomas são referentes ao situacional cotidiano. Enfraqueci-me.
Estava sentada nos bancos da estação do metrô e observava todos os transeuntes que ali circundavam, era tarde. Ficou noite.
Cada movimento dado era fraco, pensava em você.
A boca quase não se abria, não tinha muito que falar e nem queria. O nível de salivação fora aumentado mesmo sem pronunciar uma palavra.
Os vagões passavam e alternavam-se numa dança que meus olhos não podiam captar. O olhar era triste, falava por si só.
Amoleci em um dos bancos, você passou num vagão e foi a única pessoa que enxerguei.
Você passou. Eu fiquei.
Repito os sintomas, mas não adianta procurar um clínico geral mesmo passando mal. É psicológico.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Já não falo de sucumbir ou enlouquecer

Sempre quis ouvir a verdade porque fui treinada para a mesma.
Insensível. Uma pessoa monstro, não?
Já não falo de sucumbir ou enlouquecer.
Sucumbir por que?
Enlouquecer pra que?
Talvez o amor ainda sirva para alguma coisa, ainda que seja o amor próprio.
Não tinha paciência para mim, gastara toda a que eu tinha com você.
Considero que em partes foi bem gasta, em partes.
Nunca esperei isso de você, nunca mesmo.
Parecia ser mais maduro, mas quem sou eu para falar de maturidade?
Não questiono a tua decisão, tuas escolhas mas sim a maneira com que ages agora.
Quem é você?
Eu ainda lhe conheço?
Ainda tens o mesmo nome, mas o quer mudar por vezes.
Nunca poderei pedir de volta o que eu nunca tive.
Está certo que deve proceder assim?
Nada posso fazer mas aquela afirmação que fizestes para mim, faço-a como uma questão para ti agora.
"Só tenho estado assim porque você mudou."
E agora, eu que mudei?!


Eu tentei.Você também.
Eu quis querer. Eu quis você.
No que deu, no que dá, no que dará?
Já não sei o que dizer, o silêncio fala por nós.
O silêncio nos deixa a sós.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O amor que nunca tive, outra vez.

Mais uma vez.
Mais um dia.
Mais uma tristeza.
Quero a minha dureza de volta, mas até isso você roubou de mim.
Fiz promessas ao vento e abracei um amor imaginário.
Você não sabe o quanto dói isso, você definitivamente não sabe.
Pela 1ª vez eu começo a dar razão aos meus amigos que lhe desprezam.
Faça chover, e faça agora.
Chova suas palavras ríspidas e doídas em cima de mim, pois eu me deixarei molhar por todas elas. Talvez assim minha dureza possa voltar a florescer em cima
da esperança morta que você deixou.
Regue-me apenas por isso e lhe prometo que não lhe amarei mais. A amargura não deixará com que isso aconteça.
Perdi minha armadura num campo que eu julgava conhecer ao menos um pouco, pouquíssimo até. Mas mesmo assim gostava de desbravá-lo sem medo.
Olhando para o vidro da mesa, vejo o reflexo do céu e com ele falsos pássaros aprisionados. Me sinto assim e comparo as lágrimas que não deixarei cair com
esses pássaros. Elas vão secar dentro de mim.
É uma comparação minha.
São aparentemente lindos e são uma das coisas que eu mais gosto por aqui, mas o bico deles parece cortar. Já não ligo para isso, poderiam voar para cima de
mim agora pois a dor não seria tão imensamente maior. Essa cicatrização é rápida e bem mais bonita, pois ficam na pela e elas um dia realmente fariam sentido
para mim.
Voa.
Voa.
Voa.
Voa, para longe de mim e encontre outrem. Terás mais prazer.
Encontrará maior quantidade de tudo que precisas e me deprimirá com maior qualidade também. Mas meu antídoto estará pronto, meu ressecamento estará concluído.
Nada desidratado presta. Toda essa carne apodrece.
E agora o amor é carne.

31/08

E eu me tranquei para ver se passava essa dor, mas não adiantou.
Surgiram lágrimas necessárias que escorriam incessantemente. Não liguei, pois há tempos não chorava e elas poderiam me fazer bem.
O nó.
Persistente nó de dor que teima em não desatar. Eu não sei escrever.
Está tudo aqui dentro de mim e eu não sei como continuar, nem a brisa do vento consegue amenizar.
Eu não sei o que falar, apenas sinto uma enorme angústia dentro de mim e nem posso descartá-la, pois a mesma me lembra você e tu não eres descartável.
Ai, está tudo tão confuso por aqui. (E as lágrimas seguem seu curso, desenhando num papel)
Eu já não me importava em viver, fazia-se normal. Eu só seguia.
Algo mudou.
O seu abraço mudou.
Deu-me vontade de sentir tudo de novo e respirar mais uma vez. Tive vontade de viver. De respirar. Sim, de respirar mais uma vez para sentir as respirações afagadas e compassadas pelo silêncio. Fazer da tua a minha.
Eu nunca quis tanto ver alguém viver. Prezo mais a tua vida que a minha. Busco lhe compreender mais do que a mim. Amei-te mais que a mim.
O que eu sei de mim?
Nada sei.
Só tenho vontade de fugir.
Sim, os 17 já não me caem bem. Horas com ele e eu só queria ser o feto de “31 de Agosto de 1993” às 10h30min da manhã, 20 minutos antes de nascer. Minutos contam muito.
Pouco foi dito aqui. Muito ainda está em mim.
Todas as lágrimas que caíram no papel já secaram, menos a primeira.
Indago-me: Ainda há esperança? (Ela não quer secar)
Talvez tenham razão enquanto ao cordão. Seria ele uma mensagem subliminar?
Poderia ser...

P.s: Isto é apenas um desabafo de uma alma desandada, por isso não vejo necessidade uma ordem de pensamentos e pontuações nos seus devidos lugares. Tudo está como em minha mente, confuso.